sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Violência no parto: ''Na hora de fazer não chorou''

Blog Mamíferas - [Kathy] Quem nunca ouviu histórias de mulheres que foram agredidas psicologicamente, verbalmente e até fisicamente durante o trabalho de parto? Eu infelizmente já ouvi muitas, tantas que os absurdos relatadas abaixo me soam como algo assustadoramente “comum”, pois já ouvi outras vezes.

E pelo visto essas agressões são tão comuns que integram o capítulo “Violência no Parto” do estudo “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, realizado em agosto de 2010 pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc e divulgado agora. O estudo foi assunto de matéria divulgada pela Folha de hoje (link aqui). 
Segundo o estudo relatado na matéria, “uma em cada quatro mulheres que deram à luz em hospitais públicos ou privados relatou algum tipo de agressão no parto, perpretada por profissionais de saúde que deveriam acolhê-la e zelar por seu bem-estar. São agressões que vão da recusa em oferecer algum alívio para a dor, xingamentos, realização de exames dolorosos e contraindicados até ironias, gritos e tratamentos grosseiros com viés discriminatório quanto a classe social ou cor da pele.”
As agressões verbais relatadas são assustadoras, coisas como: “Na hora de fazer não chorou, não chamou a mamãe. Por que tá chorando agora?”; ou “Não chora não que no ano que vem você está aqui de novo”; ou ainda “Se gritar, eu paro agora o que estou fazendo e não te atendo mais”, descritas no estudo e relatadas pela reportagem da Folha.
Outras agressões comuns foram os exames de toque doloridos. Recentemente a Kalu fez um post sobre esse tema, e sabemos que esse é um procedimento que é feito sem necessidade muitas vezes. Quem já passou por um exame de toque sabe o quanto pode ser desconfortável com um profissional delicado, imaginem vocês quando a pessoa o faz de qualquer jeito, sem respeitar a paciente. É absurdo atrás de absurdo!
O estudo “quantificou à escala nacional, a partir de entrevistas em 25 unidades da Federação e em 176 municípios, a incidência dos maus-tratos contra parturientes. (…) O estudo mostra, por exemplo, que as queixas são mais frequentes no caso de o local do parto ser a rede pública, com 27% das mulheres reportando alguma forma de violência.
Em 2009, foram quase 2 milhões de partos feitos nas unidades do Sistema Único de Saúde. Quando a mulher dá à luz em um serviço privado, as queixas caem a 17%. Ressalta no estudo a diferença de tratamento em municípios pequenos, médios e grandes. Quanto maior o município, maior a incidência de queixas.”
E a conclusão que os pesquisadores retiraram desse estudo é uma tecla que nós aqui do Mamíferas já batemos há anos, e vocês sabem disso: “Segundo Sonia Nussenzweig Hotimsky, docente da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a diferença pode ser atribuída à “industrialização” do parto nos grandes hospitais. “Em uma cidade pequena, as pessoas acabam se conhecendo e o tratamento tende a ser mais humanizado”.”
Outra tecla que batemos aqui desde sempre é que quando a mulher se sente segura, respeitada e quando ela participa ativamente do trabalho de parto, quando é informada dos procedimentos, quando sua opinião e suas vontades são levadas em consideração, a dor diminui, e o processo fica mais tranquilo para todos.
Mas além de não termos nada disso, as mulheres ainda são humilhadas, tratadas de forma desumana e desrespeitosa, em hospitais públicos e privados.
Meu apelo é para que as pessoas não se calem ao passar por situações semelhantes. Que reúnam provas, testemunhas, que documentem os maus tratos, que façam relatos detalhados das agressões e desrespeitos sofridos e que denunciem esses “profissionais”, entre aspas, porque não é possível chamar uma criatura dessa de profissional.
A maioria dos conselhos Regionais e Federais de Medicina e de Enfermagem, Ouvidorias de hospitais e órgãos similares recebem denúncias até mesmo via internet. Ficar calado não ajuda em nada, só aumenta a impunidade e faz com que esse tipo de tratamento seja considerado o “normal”. Faça barulho e incentive quem passa por esse tipo de situação a denunciar!

Publicado no Diário Liberdade em 25/02/2011

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