terça-feira, 8 de novembro de 2011

Documentário O Renascimento do Parto fala sobre informação, hormônios do amor e opções de parto

Em entrevista exclusiva à Crescer, a co-autora do longa Érica de Paula afirma que a mulher tem o direito de escolher de que forma vai ter o seu bebê

Carol Patrocinio
Érica de Paula, co-autora do documentário

Érica de Paula é psicóloga, doula e acupunturista especializada em atender gestantes. A paixão pelo mundo da maternidade tomou proporções tão grandes que, ao sugerir uma pauta sobre o assunto para o programa de TV do marido Eduardo Chauvet, em uma emissora de Brasília, o casal resolveu fazer um documentário que acabou tornando-se o longa mais esperado para os interessados da área – O Renascimento do Parto (assista ao trailer aqui) - com estreia programada para março de 2012. “Já prevemos pelo menos dois filmes pela frente, para conseguirmos dar ao assunto a profundidade que ele merece”, acrescenta Érica.

Em entrevista à Crescer, Érica fala mais sobre o documentário, que conta com depoimentos de grandes nomes da área de saúde, como Michel Odent (um dos precursores do movimento de parto fisiológico no mundo e a primeira pessoa a colocar uma piscina de parto dentro de uma maternidade), e de quem passou por diversas experiências de parto, como o ator Márcio Garcia, 41, e sua mulher, Andréa Santa Rosa, 33, que passou por “uma cesariana, um parto normal hospitalar com intervenções e um parto totalmente fisiológico, natural e domiciliar” para ter os filhos Pedro, 8, Nina, 5, e Felipe, 2.


Crescer: Por que surgiu a ideia de fazer esse longa?
Érica de Paula:
Para promover um maior conhecimento da população em geral a respeito dos aspectos fisiológicos, emocionais, culturais e financeiros que estão por trás do parto e nascimento. Tenho observado com espanto o quanto as mulheres são desinformadas quando se trata do parto (ou seja, de uma coisa que acontecerá com o corpo delas), deixando todas as decisões na mão do profissional médico, sem nenhum questionamento mais aprofundado, e se deixando levar por grandes mitos que cercam o assunto.


Crescer: Você acredita que a situação atual do país, em número de cesáreas, pode ser transformada? Como?
E.P.:
Acredito no poder da informação, principalmente se essa informação vem corroborada com os dados científicos. Hoje, temos a nosso favor a Organização Mundial de Saúde (que preconiza no máximo 15% de cesarianas), o Ministério da Saúde (que possui diversas políticas públicas a favor do parto normal) e todas as evidências científicas, que provam de forma cada vez mais contundente o quanto é melhor para mães e bebês respeitar aquilo que é fisiológico. Portanto, acredito que, ao promover uma maior conscientização sobre o tema, podemos sim contribuir com a transformação da realidade obstétrica do país.


Crescer: Muitas mulheres dizem entender os prejuízos da cesárea eletiva e ainda assim fazem essa opção. Você acha que isso deveria ser coibido? Existe um projeto, nos EUA, para criminalizar a cesárea eletiva. Qual sua opinião sobre isso?
E.P.:
É um assunto polêmico que envolve muitas variáveis. Poder escolher o parto é uma situação muito nova na história da humanidade. Em muitos países (sobretudo nos desenvolvidos), ainda hoje praticamente não existe essa escolha. Há lugares em que a cultura entende que normal é o parto vaginal, e a cesariana é vista como uma cirurgia de emergência, um procedimento para salvar vidas quando algo foge do fisiológico e entra no patológico. Eu sou a favor da escolha consciente. Acredito que a mulher tem o direito de escolher de que forma vai ter o seu bebê, uma vez que isso se dará no corpo dela. Mas isso deveria ser feito de forma consciente, ou seja, levando-se em consideração todos os prós e contras dessa decisão. Infelizmente, não é isso que vemos acontecer no Brasil. E se, diante de todas as informações, ainda assim a mulher optar pela cesariana, sou a favor da cirurgia feita em trabalho de parto, ou seja, após os primeiros sinais dados pelo corpo de que o bebê estaria pronto para nascer.


Crescer: No filme fala-se muito sobre os “hormônios do amor”. Pode explicar melhor sobre isso?
E.P.:
Durante o trabalho de parto, a mulher libera um coquetel de hormônios que denominamos hormônios do amor. Isso se deve ao fato de que o principal hormônio do parto, a ocitocina, está presente em outras manifestações de amor, como orgasmo, ejaculação e ejeção de leite. No parto, além de serem responsáveis pelas contrações e todo o processo fisiológico do nascimento, esses hormônios estão profundamente relacionados ao vínculo mãe-bebê. Além disso, esses hormônios atravessam a barreira placentária e são de suma importância para o bebê, não apenas no momento do nascimento, mas no futuro.
Por outro lado, apesar de os hormônios serem importantes, não é isso que define o amor e os cuidados maternos. Não queremos que as mulheres que passaram por uma cesariana ou tiveram seus filhos por meio de intervenções se sintam acusadas de serem menos mães ou de não amarem seus filhos. Não é disso que se trata o filme. Não estamos abordando casos individuais, mas o futuro de uma civilização inteira nascida sem os hormônios do amor.


Crescer: O que você diria às mulheres que sentem medo do parto natural?
E.P.:
Digo que é normal termos medo daquilo que não conhecemos. Estamos acostumadas a ter o controle de tudo, e a possibilidade de vivenciar um momento onde precisamos literalmente perder o controle e nos entregar parece realmente algo assustador. Mas, se conseguirmos ultrapassar a barreira do medo, podemos vivenciar uma experiência de absoluta plenitude. É importante ressaltar que grande parte do medo que as mulheres sentem do parto está baseado em mitos (do tipo: minha vagina vai alargar) ou em procedimentos que não são fisiológicos e são feitos de forma inadequada pelos profissionais (por exemplo, a episiotomia, corte na vagina feito sem indicação em mais de 90% dos casos). Por isso, defendemos que não basta o parto ser vaginal, mas sim humanizado, respeitando aquilo que é fisiológico.


Via Revista Crescer

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